O Pavilhão de Portugal, em Lisboa, acolheu no dia 16 de outubro o B9+ European Digital Summit, uma iniciativa promovida pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal e pela APDC – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, que reuniu centenas de líderes empresariais, especialistas e decisores políticos para debater os grandes temas que moldam o futuro digital da Europa: competitividade, simplificação regulatória e inteligência artificial.
O encontro decorreu em simultâneo com a Presidência Portuguesa do D9+, a aliança dos Estados-Membros da União Europeia mais avançados digitalmente, reforçando o papel de Portugal como plataforma de diálogo europeu sobre inovação, tecnologia e economia digital.
A sessão de abertura contou com intervenções de Rafael Alves Rocha, Diretor-Geral da CIP, Alexandre Santos, Presidente da Startup Portugal, e do Secretário de Estado da Simplificação, Paulo Magro da Luz, que destacaram o papel da simplificação administrativa e regulatória como alavanca para a competitividade e a inovação na economia digital europeia.
O momento inaugural juntou o B9+, que reúne as confederações empresariais dos países do D9+, e o S9+, que congrega as entidades nacionais ligadas ao ecossistema de start-ups, numa mensagem conjunta sobre o contributo das empresas para uma Europa mais inovadora, mais competitiva e mais aberta ao mundo.
Na sua intervenção, Rafael Alves Rocha sublinhou a urgência de uma estratégia concertada para reforçar o papel da Europa na economia digital global:
“A União Europeia tem vindo a perder terreno face às grandes potências tecnológicas. É urgente criar um ecossistema empresarial mais ágil e competitivo, que promova o investimento em inovação e a simplificação regulatória. Só assim poderemos afirmar a soberania tecnológica europeia e colocar a Inteligência Artificial ao serviço do crescimento e da competitividade.”
O Diretor-Geral da CIP alertou ainda para a necessidade de mobilizar investimento público e privado e apostar na qualificação tecnológica das pessoas e das empresas, acrescentando:
“O atraso europeu na Inteligência Artificial exige uma ação concertada entre Estado, empresas e universidades. Precisamos de um financiamento massivo e de mais talento digital. É por isso que a CIP lançou o movimento AI Nation Portugal — para capacitar as empresas e preparar o país para esta nova era.”
O primeiro painel, “The Future of European Digital Competitiveness”, foi moderado por Alexandre Fonseca, Presidente do Conselho Estratégico para a Economia Digital da CIP, e contou com a participação de Sofia Moreira de Sousa (Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal), Julie Valente (Senior Director, Partnerships & Strategic Initiatives Lead da Microsoft) e Gil Azevedo (Diretor Executivo da Unicorn Factory Lisboa).
Os intervenientes sublinharam que a Europa precisa de reforçar a sua capacidade de inovação, a integração do mercado e o investimento em talento e tecnologia para garantir o seu lugar na economia digital global.
Seguiu-se a keynote apresentada por Martin Thelle, Senior Partner da Implement Consulting Group, dedicada ao tema “AI as the Driver of Competitiveness in D9+”. O especialista destacou o papel da inteligência artificial como um dos principais vetores de crescimento económico e produtividade, lançando o desafio de aproveitar o seu potencial transformador para reforçar a autonomia estratégica da Europa.
O Business Showcase “AI in Action” mostrou exemplos concretos de como a inteligência artificial está já a transformar o tecido empresarial português. O painel contou com Paulo Soeiro Ferreira (Head of Engineering and Innovation no Grupo Visabeira), Pedro Matos Silva (Digital Technology Director na The Navigator Company) e Paulo Figueiredo (Director of Tech Consulting & Data na Glintt), sob moderação de Bernardo Almada-Lobo, Partner da LTPlabs.
Os oradores partilharam casos de aplicação da IA em diferentes setores, evidenciando o impacto positivo na eficiência, sustentabilidade e criação de novas oportunidades de negócio.
Ainda durante a manhã, o painel “The Voice of Business in the Age of Artificial Intelligence”, moderado por Catarina Farinha (Staff AI Product Manager na Sword Health), reuniu Nuno Maximiano (Data Tech Sales Manager na IBM), Sasha Rubel (Head of AI and Generative AI Policy EMEA na Amazon Web Services), Paulo Dimas (CEO do Center for Responsible AI) e Paulo Pereira (Diretor do AI Center da MEO).
O debate centrou-se nas oportunidades e desafios éticos e regulatórios associados à IA, destacando o papel das empresas na promoção de uma adoção responsável e transparente da tecnologia.
A sessão da tarde abriu com o painel “Strategic Infrastructures for European Competitiveness”, moderado por Sandra Fazenda de Almeida, Diretora Executiva da APDC, e que reuniu Ricardo Conde (Presidente da Agência Espacial Portuguesa), Luís Rodrigues (Chief Operating Officer da Start Campus) e Pedro Mota Soares (Secretário-Geral da APRITEL).
O debate sublinhou a importância das infraestruturas digitais — desde centros de dados à conetividade e energia — como base da autonomia tecnológica e da competitividade europeia.
Seguiu-se o painel “National Models of Digital Regulation – Insights for Portugal”, moderado por Luís Alexandre Correia (Diretor-Geral de Supervisão da ANACOM), com Irvette Templeman (VNO-NCW, Países Baixos), Monika Tomczak (Prosus Group) e Milena Jabůrková (Confederação da Indústria da República Checa).
As oradoras apresentaram boas práticas internacionais que podem inspirar o modelo português de regulação digital.
No painel seguinte, “Cutting Red Tape to Compete – Regulatory Simplification in Digital”, moderado por Magda Cocco (Partner na Vieira de Almeida Advogados), intervieram Miguel Escassi (Google), Danielle Gilliam-Moore (Salesforce) e Erik O’Donovan (IBEC, Irlanda), para discutir como a simplificação regulatória pode reforçar a competitividade e reduzir barreiras à inovação.
Um dos momentos altos do dia foi o lançamento oficial do projeto “AI Nation Portugal”, uma iniciativa da CIP, apresentada por Ana Rodrigo Gonçalves, Diretora Executiva da Academia CIP.
Na sua intervenção, Ana Rodrigo Gonçalves destacou o caráter transformador e mobilizador do movimento:
“Hoje não lançamos apenas um projeto — lançamos um movimento nacional. Um movimento que quer colocar Portugal na linha da frente da nova economia mundial: a economia da Inteligência Artificial.”
Sublinhando o papel das empresas como motor da transição digital e da CIP como força agregadora do tecido económico português, afirmou:
“Cabe à CIP liderar este movimento porque representamos a força viva da economia — mais de 150 mil empresas que geram emprego, inovação e valor. O futuro é inevitavelmente um futuro com Inteligência Artificial, e Portugal tem de estar entre os países que se preparam a tempo.”
O AI Nation Portugal nasce como um movimento nacional de aceleração digital que articula o setor empresarial, académico e governamental para cumprir — e superar — as metas da Década Digital 2030. O seu objetivo é claro: democratizar o acesso ao conhecimento, capacitar as pessoas e transformar a Inteligência Artificial numa vantagem competitiva nacional.
“Queremos criar um país mais inteligente, mais produtivo, mais competitivo e mais humano — onde a IA se torne o motor de uma nova década de progresso económico e social”, concluiu.
A sessão de encerramento, “Key Takeaways from Humans and Machines”, ficou a cargo de Joana Valente, Diretora Executiva de Relações Internacionais da CIP, que apresentou as conclusões do dia — com o apoio simbólico de uma ferramenta de inteligência artificial que acompanhou e sintetizou, em tempo real, os principais tópicos do debate.
Com uma intervenção leve e reflexiva, Joana Valente destacou a relevância da tecnologia, mas também os seus limites:
“A máquina conseguiu transcrever o que foi dito — mas não o que foi sentido. Pelo menos, ainda não.”
A responsável sublinhou que, ao longo do dia, se ouviu “um claro apelo a uma Europa mais ágil e a uma urgência em acelerar a adoção de tecnologias digitais”, mas também “frustração com a lentidão das decisões que impedem a simplificação e a concretização das mudanças necessárias”.
“Hoje ficou claro: as empresas estão prontas, a tecnologia está madura e os países do D9+ têm a energia certa para impulsionar a Europa. Simplificar é a palavra do dia. A Europa precisa de agir — e precisa de agir depressa.”
A CIP e a APDC encerraram o B9+ European Digital Summit agradecendo o contributo de todos os oradores, moderadores e parceiros — Amazon Portugal, Companhia IBM Portuguesa, Google Portugal e Microsoft Portugal —, reforçando que o futuro digital da Europa se constrói hoje, com empresas, instituições e cidadãos a trabalhar em conjunto por uma Europa mais competitiva, mais inovadora e mais digital.

