por Armindo Monteiro, Presidente da CIP
Publicado no Dinheiro Vivo a 28.02.2025

A visita a Portugal do Presidente francês, Emmanuel Macron, acontece num momento oportuno. Estamos a assistir ao fim da velha ordem internacional, assente em princípios, normas e organizações multilaterais. Esta transição para um mundo soberanista é uma ameaça à paz, à prosperidade e ao desenvolvimento sustentável da UE. Pode estar em causa a maior realização política, económica e social do nosso tempo.

Macron parece ser um dos poucos líderes europeus com consciência da necessidade de mudar a doutrina, o funcionamento e a estratégia da Europa. Tem sido uma voz firme na defesa quer do projeto europeu, quer da ordem liberal internacional. Como se viu na recente visita a Washington, Macron revela empenho na salvaguarda dos interesses europeus, designadamente num futuro acordo de paz para a Ucrânia.

A Europa assim esperamos – está num momento de viragem, de transformação profunda, de construção do seu futuro. Mas temos de definir que viragem, que transformação, que futuro queremos realmente para a Europa. A UE só sobrevirá se houver uma resposta clara e determinada às ameaças aos seus valores, ao seu modo de vida e à sua integridade territorial. Devemos estar cientes de que a descredibilização da NATO é um sério risco à continuidade do projeto europeu, que foi construído sob o chapéu do sistema militar liderado pelos EUA. […] o estiolar da relação atlântica com OS EUA obriga a Europa a acelerar a sua autonomia estratégica, quer na defesa e segurança, quer na economia e na tecnologia. Mas, para essa aceleração, é indispensável dotar a UE de avultados recursos financeiros. Há, porém, resistências à emissão de dívida conjunta, em particular da Alemanha, e as regras orçamentais europeias continuam inflexíveis. Além disso, o orçamento comunitário representa apenas 1% da riqueza da Europa.

A cooperação entre Portugal e França ganha uma importância acrescida na conjuntura que estamos a viver. [..] Portugal tem capacidade para aportar valor e inovação à Europa em áreas onde revela grandes potencialidades, como as energias renováveis e a economia azul, a mobilidade sustentável e as tecnologias digitais, os novos materiais e o têxtil tecnológico,
a indústria aeroespacial e o desenvolvimento de drones. Em parceria com o tecido empresarial francês, as nossas empresas podem mais facilmente expressar o seu potencial, ser competitivas e contribuir assim para o desenvolvimento da Europa. Foi isto mesmo que procurámos incentivar hoje no Fórum Económico Luso-Francês, organizado pela CIP – Confederação Empresarial de Portugal, em parceria com a sua congénere MEDEF (Mouvement des Entreprises de France).

A segunda maior economia da UE é um parceiro fundamental para Portugal. E dá-se o caso de os franceses mostrarem uma vontade crescente de visitar Portugal, de fazer aqui negócios ou até de viver no nosso país. Há que aproveitar esta comunhão de interesses e gizar estratégias comuns que beneficiem os dois países e também a Europa, à luz dos seus desafios atuais.

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